29 de outubro de 2013

Tesouros no fundo do mar

Misturadas às exuberantes flora e fauna subaquáticas do litoral brasileiro estão embarcações antigas e suas preciosas cargas; muitas já foram resgatadas, outras ainda permanecem como mistério a desvendar.



Salvamento da nau Vasco da Gama, em 6 de agosto de 1850, em óleo sobre tela de Eduardo de Martino


Quando o grande navio encalhou, já quase chegando a Salvador, ao bater no banco de Santo Antônio, aproximadamente às 18 horas daquela noite escura e tempestuosa de 5 de maio de 1668, todos a bordo sabiam que havia poucas chances de sobrevivência. Logo depois, o galeão português Sacramento se soltou e começou a afundar. Às 23 horas, só restavam destroços na superfície do mar. A bordo estavam cerca de 600 pessoas, entre tripulantes e passageiros que vinham de Portugal, inclusive o general Francisco Correia da Silva, designado para o cargo de governador do Brasil. Ele não estava entre os que se salvaram, cerca de 70 pessoas, principalmente marinheiros e soldados. Foi uma grande tragédia, lamentada pelos cronistas dos tempos coloniais. Era um navio de guerra português, construído em 1650, na cidade do Porto, para enfrentar as grandes viagens oceânicas e projetar, além-mar, o poder militar de Portugal. 

O mundo vivia um período de conflitos, de maneira que as embarcações mercantes navegavam agrupadas em comboios, sob a escolta de navios de guerra. O Sacramento era, justamente, a nau capitânia da frota de uns 50 navios que, no regresso do Brasil, levaria a produção da colônia para a Europa. Trezentos anos depois, no início da década de 1970, o exato local do naufrágio do Sacramento, em frente ao rio Vermelho, na Bahia, foi encontrado por mergulhadores. O sítio arqueológico era um amontoado de pedras de lastro e objetos, inclusive canhões de ferro e bronze. Na mesma década, a Marinha e o Ministério da Educação e Cultura ofereceram os meios para recuperar parte do material submerso, que estava sendo saqueado. O trabalho se desenvolveu de 1976 a 1987 e parte do que foi recuperado integra a exposição permanente de Arqueologia Subaquática do Espaço Cultural da Marinha, no Rio de Janeiro.

Essa foi a primeira ocasião em que, de fato, se incorporaram preocupações arqueológicas em um resgate de peças em sítio de naufrágio, no Brasil. O resultado foi impressionante: canhões de bronze portugueses, ingleses e holandeses, dos séculos XVI e XVII; ânforas de cerâmica utilizadas para transportar a carga de azeite de oliveira ou mesmo azeitonas; louça portuguesa (faiança), inclusive peças pintadas em azul, com as armas do general Francisco Correia da Silva (provavelmente de sua bagagem pessoal); astrolábios portugueses do século XVII; punhos de navalhas; imagens de Cristo e de santos, feitas de chumbo ou de cerâmica. Um verdadeiro tesouro artístico e cultural, de grande importância para a história.

Naufragaram muitos outros navios, antes e depois do Sacramento, na costa brasileira; seguramente centenas deles. O primeiro de que se tem notícia fazia parte da frota de Gonçalo Coelho e afundou próximo à ilha de Fernando de Noronha, em 1503. Muitos eram caravelas, naus e galeões em missão mercantil ou de combate, durante o período da ocupação do Nordeste brasileiro pela Companhia das Índias Ocidentais holandesa. Havia os que aqui arribaram, nos séculos XVI, XVII e XVIII, em busca de abrigo, reparação nos estaleiros ou provisões - alguns traziam cargas de produtos do Oriente. Outros afundaram com ouro, no século XVIII. Navios mercantes ou de guerra foram a pique nos séculos XIX e XX, entre os quais alguns torpedeados durante a Segunda Guerra Mundial por submarinos alemães e italianos. Entre estes, também, houve os que foram destruídos durante a guerra por ataques de navios de guerra de superfície ou mesmo aviões - como o U-199, que soçobrou no litoral do Rio de Janeiro, atingido por um avião PBY Catalina, da Força Aérea Brasileira.


Cápsulas do tempo

Sítios subaquáticos de navios naufragados são verdadeiras cápsulas do tempo, de enorme importância para o conhecimento do passado. Os arqueólogos podem ter um contato direto com restos materiais que são testemunhos de uma época e cultura.

Passam a conhecer detalhes das técnicas de construção naval, das cargas, das bagagens, dos costumes e da vida a bordo. A devolução, para a sociedade, do conhecimento assim obtido constitui a antítese da caça ao tesouro, tão cara ao imaginário coletivo, ou da recuperação isolada de objetos, sem a análise do contexto histórico global das informações. É um trabalho que requer rigor científico. Afinal, a costa brasileira foi importante na época das Grandes Navegações, no século XVI, quando os oceanos deixaram de ser obstáculos para se transformar nas principais vias de comunicação entre os povos distantes. Foram os portugueses que desenvolveram os navios oceânicos: a caravela para a exploração, a nau para o comércio e o galeão para a guerra. A matriz dos navios de oceano definida por Portugal, durante os séculos XV e XVI, foi objeto, em outros países, de diversos aperfeiçoamentos, principalmente a partir da chamada Revolução Científica, que ocorreu na Europa no século XVII (e que Portugal não acompanhou), fundamental para a formação do mundo em que vivemos.

A recuperação da tecnologia da construção naval, ao longo do tempo, é também uma importante conseqüência dos estudos feitos em sítios subaquáticos. Além do Sacramento e da nau de Gonçalo há outros naufrágios antigos, no Brasil. Entre os da primeira metade do século XVI estão: o navio em que viajava Diogo Álvares Correia, o Caramuru, na Bahia; a caravela de João de Solis, em Santa Catarina; o navio de Francisco Pereira Coutinho, na Bahia; além de diversas naus francesas. Suspeita-se até que exista um sítio arqueológico do século XVI no interior da baía de Guanabara, próximo à ilha do Governador, que talvez tenha abrigado a famosa Feitoria de Cabo Frio, onde os portugueses armazenavam o pau-brasil antes de transportá-lo para a Europa.

Esses sítios são descobertos com a ajuda de equipamentos, como os sonares, que localizam os objetos submersos por eco. Entre os itens mais fáceis de identificar estão os canhões. A Marinha possui uma valiosa coleção de canhões de bronze recuperados do fundo do mar, fabricados por portugueses, ingleses e holandeses.

São provenientes dos sítios arqueológicos de diversos naufrágios ocorridos no século XVII, no litoral brasileiro. Como eram reaproveitados, passando de um para outro navio em serviço, alguns deles tinham mais de cem anos de uso, quando afundaram há cerca de 350 anos. Os mais antigos do Museu Naval são do século XVI. Outros, fabricados durante o século XVII, são lindamente ornamentados, como forma de demonstração de poder.


A utilização de canhões a bordo dos navios ocorreu ainda na primeira metade do século XIV, generalizando-se na segunda metade. A Batalha de Écluse, em 1340, entre ingleses e franceses, provavelmente foi o primeiro combate naval em que se utilizou artilharia dos dois lados. Os ingleses, no entanto, consideram o ano de 1372 como o marco inicial da instalação sistemática de canhões em seus navios de guerra. Esses artefatos primitivos, chamados de bombardas, eram, em geral, fabricados de ferro forjado, embora haja alguns de bronze fundido, principalmente em Portugal. Os de ferro eram tubos forjados; fechados na extremidade posterior e reforçados, longitudinalmente, por barras, e, transversalmente, por aros grossos. As bombardas geralmente só atiravam no momento anterior a uma abordagem. O projétil costumava ser uma pedra talhada em forma esférica, que se fragmentava ao ser disparada, causando grandes danos à tripulação inimiga.


Canhões de retrocarga

Como, inicialmente, não havia um mecanismo de recuo adequado para que as bombardas pudessem ser instaladas nos bordos dos navios e ser facilmente recarregadas, a primeira solução encontrada foi o canhão de retrocarga. A câmara de pólvora era removível, podendo haver mais de uma, já carregadas. Eram chamadas de recâmaras. Fabricaram-se canhões de retrocarga, de ferro forjado. O tubo era aberto nas duas extremidades e as recâmaras fabricadas separadamente. Esses compunham, provavelmente, a maioria dos canhões da força naval de Pedro Álvares Cabral, que bombardeou Calicute e causou considerável destruição na cidade, que devia ser de construção muito frágil. Em combates navais, eram eficazes em distâncias de 20 a 40 metros, principalmente contra pessoas ou avariando o aparelho e as velas do navio inimigo. É possível que haja alguns, nos sítios do início do século XVI, no litoral do Brasil.

A questão técnica de recarregar foi resolvida durante o século XVI, com a adoção da carreta naval, que, sobre pequenas rodas, possibilitava o recuo do canhão, durante o tiro, seu carregamento e, posteriormente, seu posicionamento, com a boca para fora do costado. O armamento principal a bordo passou a ser um conjunto de canhões mais potentes e maiores, de bronze fundido, carregados pela boca. Atiravam projéteis esféricos de ferro fundido. Essa tecnologia básica do canhão carregado pela boca não se alterou até quase meados do século XIX, portanto, a carreta do canhão naval é, sem dúvida, um desenvolvimento tecnológico notável. A abordagem perdeu sua importância e desenvolveram-se novas táticas de combate, que favoreciam o emprego da artilharia contra o navio inimigo e, conseqüentemente, o projeto dos navios de guerra se adaptou a essas inovações.

O canhão naval de bronze ocupa um lugar de destaque no desenvolvimento da artilharia de bordo, do século XVI ao final do XVII. Sua grande desvantagem era o custo elevado. Os de ferro fundido podiam apresentar defeitos de fundição a ponto de explodir durante o tiro, causando terríveis acidentes nos conveses. No fim do século XVII, com avanços tecnológicos, esses eram os mais usados em navios de guerra, também dotados com alguns de bronze fundido, como no caso do Sacramento. Os que ali se encontravam eram de diferentes origens: portugueses de meados do século XVII; holandeses da primeira metade desse século; e ingleses, provavelmente adquiridos após a Restauração de 1640. Alguns dos fabricantes dos canhões do Sacramento gravaram seus nomes nas peças, como o inglês George Elkine. Alguns dos portugueses foram assinados por Lucas Matias Escartim, em meados do século XVII. Na entrada do Espaço Cultural da Marinha estão dois belíssimos canhões holandeses, fabricados, respectivamente, em 1628 e 1634, por Assuerus Koster, e provavelmente utilizados durante o conflito pelo nordeste brasileiro.
O longo êxito dos holandeses na ocupação dessa área do país pela Companhia das Índias Ocidentais, no século XVII, resultou do esmagador domínio do mar que eles conseguiram manter durante quase todo o período. Até 1640, as Coroas de Portugal e Espanha estavam unidas. As providências luso-espanholas para recuperar Pernambuco incluíram o envio de três esquadras ao Brasil. Ocorreram grandes batalhas navais, como o Combate de Abrolhos, em 1631, e a Batalha Naval de 1640, de que participaram 66 navios e embarcações luso-espanholas e 30 holandesas. A consciência marítima e a experiência no mar dos holandeses possibilitaram que percebessem e neutralizassem imediatamente todas as ameaças ao seu domínio do mar. Dos muitos combates navais, resultaram diversos naufrágios. Um deles ocorreu em 25 de setembro de 1648, no litoral da Bahia, quando quatro navios holandeses, de uma força naval sob o comando do vice-almirante Witte Corneliszoon De With, que estava bloqueando Salvador, onde se abrigava a esquadra de Portugal, atacaram dois navios portugueses.

Os marinheiros, nessa época, estavam interessados em possíveis recompensas financeiras, decorrentes dos navios e embarcações inimigas que aprisionavam. Isso os mantinha motivados e atentos nos longos e monótonos dias de mar dos períodos de bloqueio. Para tornar as capturas mais prováveis, a força naval se posicionava além do horizonte visível da costa e somente os iates, que eram pequenos navios veleiros, se aproximavam de terra em missão de patrulha. Graças a um destes, o almirante De With soube que os dois navios portugueses haviam saído da baía de Todos os Santos. Eram eles: o galeão São Bartolomeu e a nau Nossa Senhora do Rosário. Estavam patrulhando a barra para permitir a entrada de navios mercantes, furadores do bloqueio, que trariam suprimentos para a Bahia. Aproveitando uma situação de vento de popa, que lhe era favorável, De With designou quatro navios de sua força para atacar os portugueses que, ao avistarem os inimigos, mais fortes e numerosos, tentaram regressar para Salvador. Foram, no entanto, alcançados.

A nau Nossa Senhora do Rosário foi abordada por dois navios holandeses, o Utrecht e o Huys Van Nassau, e o galeão São Bartolomeu pelo Overijssel. Conta-se que o comandante da Nossa Senhora do Rosário, Pedro Carneiro, vendo-se perdido, fez explodir o paiol de pólvora de seu navio. Com a explosão, afundaram a Nossa Senhora do Rosário e o Utrecht, ficando o Huys Van Nassau tão avariado que foi, em seguida, abandonado pela tripulação. O São Bartolomeu, após uma luta corpo-a-corpo, acabou se rendendo.


A preciosa porcelana

Do sítio desse duplo naufrágio, recuperaram-se diversos objetos. Dentre eles se destaca a magnífica coleção de peças de estanho recuperadas do Utrecht, inclusive os utensílios e instrumentos do cirurgião de bordo. Nessa época, em pleno século XVII, não se fabricava porcelana na Europa; era importada da China e muito cara. A louça de faiança, de então, era frágil e porosa. Os utensílios de mesa eram principalmente metálicos: de prata ou de estanho. Estes, mais comuns, foram encontrados em grande quantidade. Já os objetos pertencentes ao cirurgião de bordo são muito interessantes. Incluem medidas para remédios líquidos, caixinhas, ventosas, seringa para irrigações, espátula e outros. Outros sítios de naufrágios dessa época, que ainda não foram explorados, como, por exemplo, o da capitânia do almirante Adrien Pater, que soçobrou no Combate de Abrolhos em 1631, poderão trazer outras informações preciosas.
A porcelana era preciosa há cerca de 300 anos. Era uma invenção dos chineses, que guardavam cuidadosamente o segredo de sua fabricação. Somente no início do século XVIII os europeus descobriram a técnica. Até então, dependiam da importação do Oriente.

Embora usada desde há muito pelos chineses, só foi aperfeiçoada durante os séculos XII e XIII. Logo, os chineses começaram a exportar para a Pérsia e Egito. A invasão mongol e a posterior dinastia Yuan possibilitaram o desenvolvimento do comércio e é desse período o início da produção de peças de porcelana branca decorada com azul de cobalto sob o vitrificado. Elas tiveram maior aceitação no comércio exterior do que os monocromos, preferidos no mercado interno chinês, como o que imita o jade. O azul de cobalto é um dos pigmentos que resistem bem às altas temperaturas de queima. Essa decoração atingiu sua perfeição na dinastia Ming, que governou até aproximadamente meados do século XVII. A exportação intensiva para a Europa se iniciou com os portugueses, no século XVI, por meio dos navios da Carreira da Índia. Depois, também, com os espanhóis, que utilizavam a rota do Pacífico, e, mais tarde, com as diversas Companhias das Índias: holandesa, inglesa, francesa, sueca e dinamarquesa. Antes disso, ela era só comerciada com a Europa, quando trazida pelas caravanas da Rota da Seda.

Na Carreira da Índia portuguesa os navios navegavam no Atlântico Sul e no Índico, sem escolta, a escoteiro (sozinhos) ou em frotas de poucas unidades. Eram proibidos de comerciar com o Brasil, mas, as arribadas na Bahia, no Rio de Janeiro e em Pernambuco foram freqüentes, sob o pretexto de reparações e reabastecimento com água e alimentos frescos. Salvador, na Bahia, tinha o melhor estaleiro do Brasil, desde o século XVI, até meados do século XIX, e, sem dúvida, era onde se podia contar com mais recursos. Essas paradas deram oportunidade a considerável quantidade de contrabando durante toda a época de colônia. Até o início do século XIX, os produtos orientais predominaram no Brasil. Segundo Gilberto Freire, a colônia era muito oriental, em seus hábitos e objetos.

Deve-se, portanto, esperar que, com freqüência, haja peças isoladas de porcelana chinesa na bagagem de passageiros de navios naufragados em datas anteriores a meados do século XIX. As grandes cargas, porém, estavam em naus da Índia que afundaram no litoral brasileiro. A Nossa Senhora do Rosário e Santo André é um bom exemplo. Incendiou-se em Salvador, na Bahia, e afundou em frente à praia da Boa Viagem, próximo ao Forte de Mont Serrat, em 1737. Regressava de uma viagem ao Oriente e estava, portanto, com os porões cheios de carga - inclusive porcelana chinesa - que começou a ser retirada, por mergulhadores, a partir de 1975. A relação da carga de uma embarcação vinda da mesma origem e semelhante à Nossa Senhora do Rosário e Santo André era assim descrita em uma relação de carga da época: "(...) sacos de pimenta, barris de pimenta; fardos de fazenda; caixões, caixetas e caixinhas; amarrados de louça; fardos de canela; pipas de vinho Acquim; arcas e baús de roupa; peças de seda; frasqueiros de louça; barris de incenso; envoltórios; papeleiras e outros itens". A louça, em geral porcelana, era bem embalada e armazenada no fundo do porão, por ser mais pesada. Isso, em alguns casos, a preservou, nos incêndios e naufrágios, podendo ser muitas vezes recuperada em bom estado, do fundo do mar, principalmente as peças brancas decoradas com azul de cobalto.
A Nossa Senhora do Rosário e Santo André iniciou sua viagem para o Oriente em abril de 1735, juntamente com a nau Nossa Senhora da Madre de Deus. Era armada com 50 peças de artilharia, e tinha cerca de quatro anos de idade, quando afundou, em 1737. A porcelana recuperada por mergulhadores, infelizmente sem métodos cuidadosos de arqueologia subaquática, é, muito provavelmente, do período Yongzheng (1723-1735), da dinastia Qing. Apesar dos diversos estilos de decoração encontrados e de alguma controvérsia sobre a possibilidade de algumas peças datarem do período de transição entre as dinastias Ming e Qing, portanto anterior a 1662, é pouco provável que porcelana comercial, de exportação, fosse armazenada por tão longos anos, mais de 70, na China. Da mesma forma há que afastar a hipótese de que o maltratado sítio subaquático de Mont Serrat tenha mais de um casco naufragado, com cargas de porcelana de épocas diferentes. A dúvida existe porque a datação das peças é feita com base nos estilos de decoração e motivos empregados, na completa ausência de marcas ou datas gravadas.

As peças brancas, com desenhos em azul de cobalto sob o vitrificado da cobertura estão perfeitamente preservadas; as decoradas com esmaltes, sobre o vitrificado, tiveram a primeira camada destruída pela ação alcalina da água do mar. Pode-se, no entanto, observar o que havia, pois restou uma espécie de sombra, fosca, como se fosse um adamascado no branco da superfície mais polida da peça. Alguns dos potes têm intacta uma decoração cor de chocolate, sob o vitrificado, mas havia detalhes pintados com esmaltes que se apagaram. Uma carga de porcelana azul e branca, ou monocromática, que for recuperada de um navio naufragado da Carreira da Índia portuguesa, da Carreira das Índias espanhola, ou das diversas Companhias das Índias criadas pelos europeus, pode valer alguns milhões de dólares.

Os japoneses também fabricaram porcelana e faiança, com características próprias, que também chegaram ao Brasil. No século XVII eram transportadas para a Europa pela Companhia das Índias Orientais holandesa. É mais provável que possam ser encontradas, nos sítios arqueológicos subaquáticos brasileiros, em bagagens individuais de passageiros. Com o aumento da produção européia de louça (porcelana e faiança de boa qualidade), a partir do século XVIII, os chineses reagiram para permanecer no mercado internacional, fabricando peças para exportação de pior qualidade e menor preço, notadamente no século XIX. No Brasil, após a abertura dos portos, com a chegada da família real portuguesa, no início do século XIX, as louças européias, primeiro as inglesas, depois as alemãs e francesas, foram conquistando o mercado. Cabe observar, porém, que o uso da louça se popularizou, com a redução de preço, deixando de ser um objeto de luxo usado apenas pelos mais ricos.

Ocorreram outros grandes desastres marítimos no litoral brasileiro, além dos já citados aqui. Um dos maiores foi o do transatlântico espanhol Príncipe das Astúrias, que naufragou próximo à Ponta de Pirabura, na ilha de São Sebastião (SP), em 1916. Salvaram-se somente 144 pessoas, de um total de mais de 600 passageiros e tripulantes. Aliás, no litoral leste dessa ilha, bem como próximo ao Cabo Frio e em outros locais de nossa extensa costal, existem verdadeiros "cemitérios" de navios. Entre os tesouros ainda não resgatados encontra-se o que havia na nau Santa Rosa, que naufragou próximo ao litoral do Nordeste, na primeira metade do século XVIII, com uma carga de ouro; e, também, o da nau Rainha dos Anjos, que se incendiou na baía de Guanabara, em 1722, e afundou, com um presente de vidros esmaltados, do imperador da China para o papa.

O verdadeiro tesouro, porém, é preservar o precioso patrimônio cultural existente nas centenas de áreas submarinas onde há restos de embarcações antigas. O levantamento de todos eles e a elaboração de mapas com a localização geográfica de cada um dos naufrágios que devem ser protegidos ou salvos, na costa do Brasil, representaria um bom avanço. Ainda há muito que fazer nesse sentido, o que é, no mínimo, instigante e reserva inúmeras possibilidades de resgate do passado histórico de parcela da humanidade que teve a coragem de enfrentar mares, como dizia Camões, nunca dantes navegados.



Texto: 
Armando S. Bittencourt
Fonte: Revista História Viva - edição 20

13 de agosto de 2012

Fotos da Expedição Terra Nova


Em 1911, o fotógrafo britânico Herbert G. Ponting (1870-1935) passou 14 meses na Antártida e produziu um vasto material – ainda hoje, um dos mais ricos sobre a região.

Ponting foi convidado pelo capitão Robert Falcon Scott (1868-1912) para fazer parte da British Antartic Expedition(1910-1913), conhecida como Terra Nova (nome do navio de suprimentos). A expedição tinha objetivos científicos e disputava com a do explorador norueguês Roald Amundsen (1872-1928) um lugar nos livros de história, como a primeira a chegar no Pólo Sul. Amundsen chegou um mês antes da Terra Nova e Scott morreu na viagem de volta.

Durante a expedição, Ponting produziu em torno de 1.700 fotografias. Além de fotografar paisagens, a vida animal, o dia a dia da tripulação e pesquisadores, Ponting fez dezenas de retratos com um apuro técnico e estético dos grandes retratistas do século XX. Todo esse acervo está depositado no Scott Polar Research Institute, da Inglaterra.


O PROCESSO – No começo do século XX, as técnicas fotográficas avançavam rapidamente e novos processos químicos surgiam. Para registrar a expedição à Antártida, contudo, Ponting escolheu uma técnica ainda da primeira metade do século XIX: o negativo de vidro. Vários motivos fizeram Ponting escolhê-lo para a expedição: familiaridade com o equipamento, preferência estética e técnica – já que os negativos de vidro resultavam em boas cópias fotográficas – ou até mesmo questões comerciais. Estes negativos já eram industrializados e vendidos prontos para o uso a partir de 1878. No Brasil, as placas de vidro foram utilizadas até a década de 1950.

Provavelmente, Ponting utilizou os negativos obtidos em placas de vidro emulsionados com gelatina-prata e mais conhecidos como colódio* seco. Na época e pelo local, a escolha era uma boa solução por não necessitar de processamento imediato, diferentemente do colódio úmido. O professor Boris Kossoy explica bem isso no seu livro Dicionário Histórico-Fotográfico Brasileiro: “Com as chapas secas (sendo em geral o bromureto de prata a substância sensível) o fotógrafo de arquitetura e paisagens não necessitava mais carregar consigo tendas, produtos químico, frascos, banheiras e todo o equipamento transportado geralmente em carroças adaptadas como laboratórios da campanha, onde se revelavam as chapas enquanto o colódio se mantinha úmido”.

* Colódio: Resultado da dissolução de nitrato de celulose em álcool e éter é uma substância transparente, viscosa e muito volátil. Tem como característica a impermeabilidade após curto tempo de utilização, exigindo sempre que seja utilizado enquanto úmido.


O Terra Nova ancorado na Antártida


Anton Omelchenko na extremidade da geleira Barne


Pinguins no Cabo Royds


Gruta de gelo em Ross Dependency


Geleira na Ilha de Ross. Ao fundo o Monte Erebus


Focas no Cabo Evans


Iceberg na costa do Cabo Evans


Geólogo Thomas Griffith Taylor e o meteorologista Charles Wright na entrada de uma gruta


Adestrador de cães Cecil Meares no convés do Terra Nova


Anton Omelchenko corta o cabelo de Patrick Keohane


Beliches no acampamento da expedição


Capitão Robert Falcon Scott (centro) comemora seu aniversário de 43 anos


O adestrador de cães Cecil Meares e o capitão Lawrence Oates cozinhando para os cães


Capitão Robert Falcon Scott escreve em seu diário


Oficial Edgar Evans


Thomas Clissold, cozinheiro da expedição, com pinguim imperador


Fotógrafo Herbert Ponting


Membros da expedição em acampamento improvisado


Capitão Robert Falcon Scott (centro) com outros membros da expedição


Explorador Apsley Cherry-Garrard


Explorador Sir Charles Seymour Wright


Dr. Edward Adrian Wilson


Capitão Lawrence Oates


Fotógrafo Herbert Ponting


Fotógrafo Herbert Ponting em seu laboratório improvisado no acampamento da expedição



Texto: Alexandre Belém
Fonte: veja.abril.com.br

4 de janeiro de 2012

Os primórdios do montanhismo em Santa Catarina

Quando se trata de histórico do montanhismo nacional, logo remete-se as manifestações ocorridas nos tradicionais estados do Rio de Janeiro e Paraná, onde sem dúvida, o montanhismo foi praticado com maior coesão, rendendo uma seqüência cronológica de conquistas e feitos notáveis , se tornando os principais centros da prática do montanhismo no Brasil.

Reginaldo José de Carvalho* - SC - Publicado originalmente no Jornal da Montanha**.


O Estado de Santa Catarina, apesar de não ser muito conhecido no cenário do montanhismo, possui algumas pérolas que contribuem para enriquecer a história do montanhismo nacional, muito embora, esta prática se desenvolveu de forma mais sutil, porém, contemporânea aos principais centros e que merecem ser conhecidas.

Com a chegada dos imigrantes europeus, a necessidade, juntamente com a dificuldade de conectar as cidades para escoar matéria prima entre os portos com o planalto, foi muito determinada pelas serras, que impuseram desafio aos primeiros exploradores encarregados de abrir as estradas em direção ao planalto, tornando-se as transposições das serras catarinenses grandes empreitadas louváveis e reconhecidas até os dias atuais.

Também com os europeus, houveram os primeiros relatos e registros de ascensões, muitas vezes exploratórias e outras já com cunho montanhístico e contemplativo, dentre as principais, segue em ordem cronológica um pequeno resumo das ascensões históricas nas montanhas de Santa Catarina.

Neste artigo, serão descritos os principais feitos ocorridos entre os anos de 1711 à 1948, somente o que diz respeito aos primórdios, pois a história moderna ainda está sendo construída.


1711: Diversas foram as montanhas exploradas com a chegada dos europeus, onde as primeiras fontes são de Padres Jesuítas, principalmente na Serra Geral, em Urubici a partir do ano de 1711, quando D. João V ordenou que os mesmos demarcassem o território, procurassem minas e catequizassem os índios Xokleng que habitavam aquela região.

Montanhas como Costão do Frade 1370m, Morro Pelado e Morro do Campestre 1385m, são elevações possuidoras de muitas histórias sobre os tais jesuítas, o Costão do Frade principalmente, possui uma escadaria de pedras, feita com mão de obra escrava, com descrições antigas sugeridas serem dos jesuítas.

O segundo ponto mais alto do Estado, o Morro da Igreja 1822m, é detentor de muitas histórias e lendas indígenas e de tesouros escondidos em suas escarpas, acredita-se que os padres jesuítas foram os primeiros europeus a subirem esta elevação em 1745, seu nome pode ter surgido dos próprios sacerdotes exploradores.



Neve no Morro da Igreja (1.822m) em Uribici.


12 de abril de 1791: O primeiro relato documentado que se tem conhecimento sobre a subida de uma montanha em Santa Catarina, é do Capitão Antônio Marquez d'Arzão, encarregado de abrir a estrada que ligava Desterro (Ilha de Santa Catarina) aos Campos de Lages, hoje BR 282, chegando em Bom Retiro, nome batizado pelo próprio Arzão, que considerou o lugar um bom paradeiro para sua tropa estabelecer uma vila militar na base do Morro Trombudo.

Em uma certidão de assentamento, Arzão relata o objetivo de sua escalada ao Trombudo, "...fui assentar por parte desta Capitania de São Paulo, um marco no cume da serra apelidada de Trombudo, que desta Vila do Sertão das Lages". Este marco, era feito de madeira de pau andrade, lavrado em quatro faces com os caracteres SP e SC em referência a divisão territorial das províncias de São Paulo e Santa Catarina.

O Trombudo apesar da altitude (1.306m), por estar mais para o interior, afastado da frente de escarpa da Serra Geral, possui pouco desnível, variando entre 300 e 400 metros somente, não sendo muito significativo, mas a ascensão possui um valor histórico. O marco implantado por Arzão, foi encontrado recentemente por topógrafos no topo da montanha, confirmando o fato histórico.




08 de março de 1852: Outro registro digno de nota, se trata da escalada do Morro da Tromba (967m), desta vez, situado na Serra do Mar em Joinville, com maior desnível, agora 900m, essa montanha foi escalada em 8 de março de 1854, pelo imigrante francês Louis Leonce Aubé, intendente e responsável pelas terras dotais da Princesa Dona Francisca Carolina a quarta filha do imperador Dom Pedro I e do principe francês François Ferdinand da cidade francesa Joinville, herdeiros de um dote de terra onde atualmente está inserida Joinville, região nordeste de Santa Catarina. Essa ascensão teve como objetivo principal a visualização das terras dotais, já que do alto do Tromba, há uma vista de toda a região norte catarinense. Em uma carta endereçada ao príncipe e intendentes do Rio de Janeiro, Aubé relata em francês, pormenores da empreitada destacando a árdua subida que foi recompensada pela maravilhosa vista que se tem do topo.


Morro da Tromba (967m), no Distrito de Pirabeiraba - Joinville.


1872: Destaca-se também, a primeira escalada do Pico Spitzkopf (940m), traduzido do alemão "Cabeça Pontuda", montanha detentora de grande documentação histórica e publicações.

O Spitzkopf, possui um perfil bonito e convidativo, está localizado na Serra do Itajaí, município de Blumenau, a área está inserida em um parque Ecológico. O "Spitz" como é conhecido, foi escalado pela primeira vez em 1872, pelo Comandante das Guardas de Batedores do Mato Friederich Deeke entre outros ajudantes.

A escalada não foi por um motivo tão nobre, Deeke e seus batedores estavam caçando e iniciaram uma perseguição a uma anta, o animal aflito e muito ágil nesses terrenos subiu a montanha, após um tempo de perseguição, acabaram chegando no topo, Deeke se encanta com a vista e desenha a paisagem em um papel que após a escalada foi enviado ao Dr. Blumenau.


Excursionistas descansando na base do Spitzkopf.


05 de junho de 1886: A escalada que serve de referência para o inicio da atividade de montanhismo em Santa Catarina até o momento, trata-se da subida do Pico Jurapé (ou Jurapê - 1.149m), situado na Serra do Mar em Joinville, quando em 06 de junho de 1886, o imigrante suíço Johan Paul Schmalz, juntamente com uma equipe de seis pessoas: Bruno Clauser, Hahn, Jacob Schmalz, Otto Delitsch e mais dois sujeitos definidos como "dois alugados", atingiram o ponto culminante da montanha, após três árduos dias de trabalho, abrindo trilha diante de uma floresta extremamente cerrada.

Foi uma escalada autêntica, pois subiram a montanha "porque ela estava lá", sem outros objetivos, o Pico Jurapé é uma montanha estética e imponente, com 1100m de desnível e terreno bastante íngreme, sempre intrigou Schmalz que era um grande apreciador e conhecedor das belezas naturais da região e já fazia tempo que divisava a montanha, até que chegou a hora.

O relato de Schmalz é uma verdadeira pérola, pois o leitor pode ser transportado para a montanha, anotou a escalada minuciosamente em seu caderno de registros. Em umas das passagens, relata a dificuldade de transpor um degrau imposto pela montanha, onde os mesmos tiveram que se utilizar de uma corda para transpor um ressalto no relevo, segundo o relato de Schmalz: "Daqui saímos, às 6h30m da manhã, com muita dificuldade e perigos, servindo-nos constantemente da corda. Subimos o barranco até chegar ao dorso o que nos permitiu um deslocamento fácil e sem necessidade da corda..."

Realizaram mais um pernoite já na crista final do Jurapé e no dia 6 de junho atingiram o cume do tão almejado pico. Schmalz e os membros de sua equipe ficaram encantados com o que viam do alto do Jurapé, segundo os relatos do próprio Schmalz:

"Foi sublime o momento em que pela primeira vez pisaram, gentes civilizadas, neste lugar, o morro mais alto de toda a costa da província. Viam-se as outras serras e cumes, muito abaixo, e nenhum da mesma altura. O panorama que nós tínhamos não pode ser descrito. Nenhuma nuvem tem embaraçado a vista..."

Animados com o feito, a equipe de Schmalz acendeu uma fogueira do alto do Jurapé, com objetivo de informar aos moradores que o pico fora conquistado. Schmalz registrou a escalada colocando uma pequena garrafa com uma carta em uma árvore, conforme relatou:

"... Às 9 h, ascendemos fogo e fizemos grande fumaça para sinalizar a nossa chegada. Porém, o vento forte não deixou a fumaça subir. Por isso foi mal percebida e só em poucos lugares. Como sinal da nossa chegada e desta primeira excursão, coloquei um frasco pequeno com rolha de vidro que continha uma carta de visita minha com a assinatura de todos os companheiros e a data da chegada, no arbusto mais alto (talvez três metros) que há no cume; entre dois galhos. Amarrei-o com fio e cobri com musgo para evitar que caísse antes de que o musgo, que aqui muito cresce, o fixasse nos galhos..."

Schmalz além do Pico Jurapé, escalou o Araraquara (1.222m). Embora seus descendentes, possuidores de seu acervo, não tenham o relato desta escalada, pois um de seus cadernos de anotações foi extraviado, é muito provável que as datas sejam próximas. 


Pico Jurapé (1.149m).



19 e 20 de julho de 1892: Nos dias 19 e 20 de julho de 1892, foi registrada uma nova escalada ao Spitzkopf, desta vez, realizada pelos excursionistas Otto Wehmuth, Christian Imroth, Fritz Alfart, Hermann Gauche Sênior entre outros, sendo a primeira ascensão da montanha para fins de excursionismo. Após esta ascensão, o Spitz começou a ser freqüentado com mais freqüência.

1899 - 1900: Imigrantes italianos do município de Nova Trento, no vale do rio Tijucas, escalaram diversas montanhas em torno da cidade com a finalidade de implantar cruzes e oratórios nos cumes das principais montanhas das cercanias como o Monte Barão de Charlach (1.148m), Monte Lima (1.090m), Monte Bela Vista (850m) e Morro da Onça, atual Morro da Cruz (525m). 

17 de julho de 1929: Foi fundado o primeiro clube de montanha do Estado, o Spitzkopf Klub, tendo como presidente: Otto Huber, secretário Rudolf Hollenweger, tesoureiro Alfredo Gossweiler, rancheiro, guarda da cabana, Fritz Hasse. Proprietários Paul Scheidemantel, Gauche (alfaiate) e Wünsch. O clube foi fundado com com a finalidade de conservar a trilha de acesso e fazer uma cabana no alto, para abrigar visitantes que por ventura subissem o Spitzkopf.

No ano de 1948, surge em Joinville o Centro Excursionista Monte Crista - CEMC, fundado no dia 20 de novembro, com o objetivo de promover atividades ao ar livre, principalmente explorar as belezas naturais da região.

Tratava-se de um grande e unido grupo, formado principalmente por rapazes e moças joinvilenses descendentes de alemães e suíços. A criação do CEMC foi uma atitude de vanguarda na época, pois ainda havia poucos clubes instituídos no Brasil.

Com o lema "Fazemos excursões para melhor conhecer as belezas naturais de nossa querida pátria", realizavam atividades com freqüência nas montanhas da região como ao Monte Crista (967m), o Morro da Tromba, o Jurapé e o Castelo dos Bugres (998m), além de muitos outros recantos naturais da região e de outros estados.



Castelo dos Bugres (998m).


* Reginaldo Carvalho é montanhista e geógrafo, pratica montanhismo há dezesseis anos. Exímio conhecedor da Serra do Mar local onde realizou diversas empreitadas como ascensões, travessias, aberturas de rotas de escalada e conquista de montanhas virgens.

** O jornal da Montanha é uma publicação impressa mensal. Sediada em Quatro Barras (SC), destina-se a divulgar o montanhismo do Sul do Brasil.


Fonte: http://altamontanha.com/index.asp

9 de novembro de 2011

O Chamado Selvagem


‎"Há um momento de êxtase que marca o ponto mais alto e inexcedível da vida. É um paradoxo que esse momento chegue exatamente quando nos sentimos mais vivos, embora inteiramente inconscientes de que estamos vivos. Esse momento é conhecido dos artistas. E também do soldado que, enlouquecido pela guerra, mesmo num campo cercado, se nega a render-se."


Jack London em "O Chamado Selvagem"

24 de outubro de 2011

Livro publica fotos inéditas da expedição de Scott ao Pólo Sul

Provavelmente Demetri é quem aparece na imagem, treinando um grupo de cães - Cabo Evans, outubro de 1911


O historiador e estudioso da região polar David M. Wilson tomava uma bebida em um mercado de arte alguns anos atrás quando um colecionador desconhecido aproximou-se. ''Ele disse: 'Você não vai adivinhar o que eu tenho em minha coleção’'', lembra Wilson.

O colecionador era Richard Kossow e lhe disse que em 2001 havia adquirido um portfólio de fotografias da Antártica do início do século 20. Contudo, não eram fotos comuns da Antártida: as fotos eram da expedição de Robert Falcon Scott que durou de 1910 a 1913 e na qual ele vários homens – incluindo o tio-avô de Wilson, Edward Wilson – morreram ao regressar.

Além disso, não eram fotos de expedição quaisquer, contou Kossow: eram fotos tiradas pelo próprio Scott. ''Eu quase engasguei com o gim-tônica’', afirma Wilson.

Durante muito tempo, o paradeiro da maioria das fotos de Scott – tiradas nas proximidades do local de invernagem na ilha Ross e no caminho em direção ao polo – fora um mistério. Apenas uma ou duas dezenas haviam sido publicadas, sendo que muitas delas foram atribuídas a outras pessoas de forma indevida. As fotos não publicadas aparentemente permaneceram por décadas em um arquivo comercial.

Agora, à medida que se aproxima o centenário da morte de Scott, que faleceu em março de 1912, Wilson publicou todas as imagens em seu livro 'The Lost Photographs of Captain Scott’ ('As fotografias perdidas do capitão Scott’, em tradução livre) juntamente com descrições detalhadas do local e do momento em que foram tiradas, da melhor maneira que foi possível ao autor determinar.




Scott contratou Herbert Ponting, conhecido fotógrafo profissional de viagens. Nunca se esperou que Ponting realizasse a árdua viagem da ilha Ross ao polo com trenós, pôneis e cachorros. Em vez disso, ele ministrou um curso intensivo de fotografia a Scott e outras pessoas, ensinando-os a usar câmeras volumosas, lentes e filtros, e tirar a fotos com adequada exposição à luz em condições extremas.

A curva de aprendizagem foi bastante acentuada, mas Scott tornou-se um dos melhores alunos de Ponting. Muitos de seus fotógrafos provêm dessas sessões de treinamento.

Sophie Gordon está montando uma exposição de trabalhos de Ponting como curadora sênior da coleção real do Castelo Windsor e Frank Hurley, fotógrafo mais de uma época mais recente da Artártida, afirmou que Scott aprendeu bem com o professor.

''Ele realmente usou de sensibilidade artística’', afirma Gordon. ''As suas melhores fotos parecem com as de Ponting’', afirma.


Acampamento nas Montanhas Wild - 20 de dezembro de 1911

Pôneis em marcha - 02 de dezembro de 1911

Acampamento de inverno - outubro de 1911


Fonte: http://www.extremos.com.br/